MOTE:

"Eu sou uma autêntica bomba abandonada! Temo explodir a qualquer momento..."
- Frase de um ex-combatente, anónimo.

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sábado, 2 de abril de 2011

NOCTURNO DE 1961




Fulguram lâminas na noite…
Escura incerteza a nossa.
Cantemos fábulas, apólogos, fantasias.
Fulguram lâminas na noite…
Sonhar sonhe quem possa,
a situação não se coaduna com poesias.

Chove chuva de caju, ténue cortina
a envolver a noite num manto neblina.

Noite morna densa de mistérios,
olhando lá para fora é só pavor
… silêncio, escuridão, calor…
Calem-se por favor!
Já chega de impropérios…

Rasga o silêncio um grito de rajada
tiros isolados, os ecos no escuro…

Depois, não há mais nada…
Depois, não há mais nada…

Bebam mais – que raio – bebam mais…
Talvez que a nossa aurora seja nunca
talvez que seja o nosso nunca mais;

Que fiquem na noite fechada
sob o céu profundo e puro.

Depois, não há mais nada…
Depois, não há mais nada…

Fulguram lâminas na noite
Estranha tristeza a nossa.
Contamos contos, histórias, elegias…

Fulguram lâminas na noite
sonhar, sonhe quem possa,
a situação não se coaduna com poesias…

Neves e Sousa (Luanda 1961)
In:”Macuta e Meia de Nada”

1 comentário:

  1. Magnifico poema do poeta angolano Neves e Sousa!
    «Chove chuva de caju, ténue cortina
    a envolver a noite num manto neblina.»
    Saudade do cheiro da terra africana quando chove...
    Boa escolha!
    Parabéns ao autor e um bem haja a ti, meu querido amigo poeta Roseira.
    Bjito amigo e bom fim de semana.

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