MOTE:

"Eu sou uma autêntica bomba abandonada! Temo explodir a qualquer momento..."
- Frase de um ex-combatente, anónimo.

Amigos

terça-feira, 14 de abril de 2015

MUEDA! QUEM ÉS TU?

- Eu sou o fulcro dessa balança,

a que chamam terrorismo.

 

- Sou o terror dos metropolitanos,

dos “coca-colas” e até dos turras.

 

- Porque o pó que se respira,

é o pó da pólvora queimada.

 

- Porque a água que se bebe,

é a água manchada de sangue.

 

- Porque as quietudes das noites,

são quebradas pela incerteza.

 

- Porque os dias que passam,

são dias que não mais passam.

 

- Tenho o meu ventre inchado,

pronto a parir maquinismos

e homens que são títeres,

para semearem a morte.

 

- Tenho um grande hospital,

para dar aquilo

que nos obrigam a roubar,

impelindo-nos para o abismo

da morte ou da invalidez…

e como indeminização?...

- Uma medalha…

Algumas a titulo póstumo,

daqueles que eram o sustento das viúvas

e até dos próprios pais.

 

- 10 de Junho.

Dia da Raça.

Mas que raça?...

Raça de autómatos sorridentes.

Bem vestidos. A desempenharem a sua   função:

- Medalhar! Medalhar! Medalhar!

 

- Onde estão eles que não nos vem visitar?

 

- Honrai a Pátria, que a Pátria vos contempla.

 

Como?

 

Assim!...

Não!... - Dizem eles.

 

- Mais vale viver desonrado,

do que morrer ou ficar aleijado.

 

Luís Jorge

1 de Agosto de 1969

Mueda – Moçambique

África Oriental Portuguesa

 

- Post Scriptum: Dia do meu 24.º aniversário

(Será que alguém vai ler isto?)

 

Luís Jorge (Ferreirinha Júnior)

quinta-feira, 26 de março de 2015

…PORQUE, AINDA VIVO…



um dia deram-te uma arma,

e uma missão:

- matar!...matar!…matar!...

 

eras tu, pouco mais que criança…

fintaram-te a juventude.

roubando-te a esperança.

algemando tudo o que era virtude…

 

uns anos mais tarde,

porque, ainda vivo,

com mais nada para te tirar…

pediram-te de volta a tua “mulher”..

assim chamavam à espingarda

que um dia te deram,

para com ela tu tudo matares…

homem…mulher…

menina…rapaz…

velho…criança…

…tudo em nome da “paz”…

 

aos outros…já mortos…

chamaram os pais,

as viúvas, os meninos órfãos

que nunca conheceram os seus pais…

a quem pomposamente

lhes deram uma medalha…

 

a ti, porque, ainda vivo,

deram-te o nada

acompanhado do abandono

como que dizendo:

- vai, cão sem dono!…

desaparece!...

 

hoje, em tempos de… “paz”…

és ferida que dói…

és forçado, a de novo, ser herói…

porque, ainda vivo,

em constante luta contra o stress.

 

eduardo roseira

domingo, 22 de março de 2015

O HERÓI - poema de Sidónio Muralha

O herói da guerra
possui 365 medalhas,
uma para cada dia do ano
(só nos anos bissextos
tem um dia de folga).


O herói da guerra
tem um desencontro
marcado com ele mesmo
(sua vocação era ser homem
e fizeram dele um herói).


o herói da guerra
precisa esquecer
(num gesto heróico
fuma heroína).


Sidónio Muralha
In: "Poemas de Abril", Lisboa, 1974, Prelo, pág.58.