MOTE:

"Eu sou uma autêntica bomba abandonada! Temo explodir a qualquer momento..."
- Frase de um ex-combatente, anónimo.

Amigos

sexta-feira, 4 de julho de 2014

HUMANIDADE NA GUERRA?


 
“…tal o peso arrasador da máquina de guerra versus a perda da humanidade de um grupo de homens que cumprem ordens sem tempo para se interrogarem…”

                                               Daniel Deusdado, in: “Sophia, Carlos do Carmo – quase tudo”

                                                                          «Praça da Liberdade», Jornal de Notícias, 3/7/2014

 

Há coisas que não se aprendem, porque há coisas que ninguém as sabe ensinar.
Na guerra, voluntariamente ou não, quem por lá passa, torna-se de um dia para o outro, desumano.
Há que cumprir ordens! Só isso, mais nada.
Cumpri-las, sem tempo para pensar no acto.
E é aí que o ser humano, presa fácil dos donos da guerra, perde a sua postura. Depois…, há os que gostam e nem esperam por ordens desumanas, actuam!
Outros, sabe-se lá como? Fazem um esforço sobre-humano para continuarem humanos, não deixando de cumprir ordens.
Na guerra, o verdadeiro herói é o que luta contra a sua própria desumanidade!
 
eduardo roseira

 

 

quinta-feira, 27 de março de 2014

A PODRIDÃO DA PAZ 40 ANOS APÓS A GUERRA…

Daquela noite, poética como muitas outras, em que o tema era “Guerra e Paz”, retive a imagem de revolta, desespero e quem sabe, se pedido de auxílio, de um homem “abandonado”, que de joelhos e braços abertos em cruz, questionou em alta voz:
- Porquê?
- Porque me abandonaram?
- O que é que vocês sabem da guerra?
- Eu estive lá, porra!
… em silêncio, também eu gritei com ele os mesmos porquês?!
Quarenta…quarenta longos anos depois de uma guerra que continua dentro de muitos de nós, aos quais dói, não as “mazelas” físicas e psicológicas, mas sim o abandono de um país, que nos usou, nos mentiu e nos medalhou, porque mortos, e nos ignora porque vivos.
Um país que nos trata, não como pessoas, mas como despojos de guerra, numa paz podre, porque paz!
Naquela noite, a tudo assisti, de semblante sereno (penso eu), a olhar para um velho camarada de armas, feito farrapo, que de um momento para o outro, tal como rebenta uma granada, daquelas que na emboscada surge sem sabermos de onde vem…um homem de joelhos implorando porquês???
Este homem, personifica muitos e muitos milhares de homens que pararam no tempo duma juventude estropiada por amor à Pátria…
…eu, limitei-me a acobardar os meus gritos e revi-me nele e na lágrima que uma senhora, na mesa em frente, não conseguiu reprimir e que tentou disfarçar com um leve baixar de cabeça.
Os restantes presentes na sala, compreendendo, mesmo que não aceitando o gesto, fizeram silêncio ao grito dele, enquanto eu espetava com a maior das forças, os dedos da minha mão, sim a mesma que segurou e disparou a G3, em nome da defesa da tal Pátria, na “Antologia da Memória Poética da Guerra Colonial”…
Puta de paz esta, amaldiçoada por uma guerra que em nós ainda permanece…e não a pedimos para fazer…
Triste conclusão, a de quarenta anos depois, fazer o balanço e dar estupidamente conta de que é mais fácil estar entre tiros, minas e emboscadas, do que viver nesta paz…e descobrir apenas um porquê?...é que nos roubaram a juventude e mataram o futuro. Mas como portugueses que somos, LÁ nos VAMOS enganANDO e sorRINDO… até à morte final.

 
Eduardo Roseira