Desces
da vida de além-morte
que me alumia.
Sereno vens
sereno e forte
servir de guia.
Apareces
da noite.
Marcas o norte
rasgas o dia.
Na amargura
da minha escura, crucial poesia
entreteces
com brandura e valentia
a ligadura de uma ferida
que sangra, tortura e arde -
e só não cura quem nesta vida
fugindo à lida se acovarde.
Cresces na funda raiz
de português meu irmão
filhos do mesmo país
nascidos do mesmo chão
floresces na cicatriz
e a abrir flores-de-liz
em chagas do coração
mátria, pátria, matriz
da universal condição.
(e aqui, por quanto fiz quanto não quis,
alheio à tua exemplar lição,
ó meu Irmão, ó minha Terra, ó meu País,
perdão milhões de vezes, perdão, perdão).
A sede que no barro se levanta
da fome que me afunda sob a lama
agora, mais que nunca, chora e canta
no rasto do teu vulto à voz que exclama:
Quando se vive e se morre
para cumprir o Dever
sem medo
e sem alarde -
para morrer não é cedo
para viver não é tarde.
Fernando Pinto Ribeiro (Guarda, 1928/Lisboa, 2009)
in: "O Cisne Submerso", Edium Editores, 2010Imagem: sapo.pt
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