Regressei à minha terra
vindo de Alcácer-Kibir.
Trouxe a memória da guerra
nesta forma de sentir
a morte por todo o lado
uivando como um coiote.
Trago a memória da morte
no sonho despedaçado.
Trouxe a memória dos gritos
dos corpos semi-desfeitos,
trago a memória dos mitos
de orgulhos e preconceitos.
Trouxe nos olhos poentes
e horizontes esfumados
dos jovens ludibriados
por mentiras indecentes.
Trouxe comigo a derrota,
a mentira, a cobardia
e a miséria que suporta
um resquício de agonia.
Trouxe a mágoa reflectida
no rosto de uma mulher
que já não sabe o que quer:
— se quer a morte ou a vida.
Trago a saudade no peito,
trago uma esperança adiada,
trago esta forma sem jeito
de saudar a madrugada
no filho que irá nascer
e nos teus braços dormir,
no cravo que hás-de parir
quando a Paz reverdecer.
Não veio comigo o Rei.
Em Alcácer nunca o vi
e no tempo em que lutei
nunca ao meu lado o senti.
Estava longe, parece,
longe de mim, da Verdade.
Longe de mim, na Cidade
o Rei jaz morto e apodrece.
Vendo bem, não trouxe nada
do muito que então levei.
Trouxe a memória pesada
da vergonha que encontrei
e que regressa comigo:
— o povo que conheci
e contra o qual me bati
não era um povo inimigo!
Fernando Peixoto
Nem me queiras lembrar meu querido amigo!
ResponderEliminarQuantos foram lutar, contra a sua vontade, contra um povo que não era inimigo!
O saudoso amigo Fernando Peixoto, descreveu magnificamente num poema a verdade até então oculta.
Foste ontem à manifestação ( Geração à Rasca)?
Eu fui. Foi lindo.
Bjito amigo, amigo Roseira.
Amigo Roseira:
ResponderEliminarNunca é demais recordar poesia de Fernando Peixoto,sabemos que ele tem um vasto leque de poemas realmente extraordinários.
inclusive peças de teatro,e que at+e representava muitíssimo bem.
bem haja por relembrares os méritos que ele teve neste campo.
beijos da amiga Natali Carvalho