MOTE:

"Eu sou uma autêntica bomba abandonada! Temo explodir a qualquer momento..."
- Frase de um ex-combatente, anónimo.

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terça-feira, 15 de março de 2011

DEPOIMENTO de uma Portuguesa nascida em Angola

“Sou uma pessoa que nasceu em África e veio refugiada para Portugal em 1961, ou seja, no auge da então chamada Guerra Colonial. Por outro lado voltei para Portugal em 1970. Com isto quero dizer que vivi os três lados da questão:

- O primeiro, ainda pequena, sem perceber muito bem o que estava a acontecer, cuja memória mais marcante na altura, foi ver o meu irmão a fugir porque não queria "abandonar" o papá e terem sido designados dois lugares no avião para 2 adultos e cinco crianças, aliás aquilo não era um avião pois não se via o chão nem o tecto tal era o mar de gente. Independentemente de ter visto outras coisas horríveis, tais como pessoas gravemente feridas.

- O segundo, mais tarde, a despedida dum amigo que foi chamado a ir para o Ultramar - completamente horrível a imagem que ficou gravada na minha memória, do mar de gente a despedir-se dos seus entes queridos, para depois vir a saber que dois dias antes de regressar definitivamente, foi morto.

- O terceiro, talvez um pouco pior, tive um irmão na tropa que foi dado como desaparecido e na véspera, ou seja, quase 3 meses depois, da sua homenagem e do seu pretenso funeral, apareceu em casa dos meus Pais num estado lastimável. Nem imaginam o estado dele, tanto psicológica como fisicamente.

Tudo isto são histórias verdadeiras, que alguém já passou com mais ou menos dor, o que é facto é que estão guardadas na nossa memória. Serão recordações boas ou más? Não sei explicar. Para mim, e no meu caso pessoal têm os dois lados.
Ainda hoje, e por vezes com lágrimas nos olhos, ao ler linhas sejam em que forma de escrita sinto uma impotência, uma dor, uma revolta, enfim uma confusão de sentimentos.

A Todos os que passaram por esta Guerra um grande ABRAÇO.”

MG (Natural de Angola)
(Contributo enviado por e-mail)

Imagem: sapo.pt

3 comentários:

  1. Já exemplifiquei num comentario atraz, em que as guerras deixam marcas muito profundas,amargas mesmo.
    Vamos olhar para tantas amarguras de guerras que se passam pelo mundo!!!-O que bastante me arrepia são as pobres crianças e edosos.
    que Deus lhes dê muita coragem para tudo isso conseguir minimamente ultrapassar.

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  2. MG, pense querida quantos não sentem o mesmo sentimento. Felizmente o seu irmão foi dado como desaparecido e 3 meses depois, quando, estavam para lhe fazerem uma homenagem, apareceu. Um primo meu, foi dado como desaparecido em 1971 e embora algúns colegas afirmem que o viram poucas horas antes do embarque do regimento ao qual ele pertencia,até hoje, nem o Estado português nem o Angolano dão uma resposta ao desespero da minha tia e primos. O meu tio morreu com o nome do filho na boca. A minha tia passa os dias a chorar o filho que não sabe se está morto ou vivo. Era de todos os seus filhos o mais doce e querido. Os irmãos já correram as instituições, desde o exercito, aos governos e instituições particulares e nada conseguem.Desapareceu do mapa, de dois mapas que não assumem as suas responsabilidades, para não terem de pagar uma indemnização.
    Seja forte querida, as guerras não são feitas a pensar em fazer os seres humanos felizes...
    Bjitos mil para si e meu amigo Roseira

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  3. Obrigada à MG pelo seu depoimento, e à Natália e à Tecas pelos comentários.
    Por entender que o comentário da Tecas é um Testemunho tão sentido e profundo das amarguras impostas pela crueldade da Guerra, vou colocá-lo como post na página principal do blog.
    A minha gratidão pelos vossos contributos, todos eles são importantes para que fiquem registadas as histórias que a História não conta.

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