Sonhei-o nesta casa
entre paredes e portas.
Deus aos homens permite
sonhar coisas que são certas.
Sonhei-o pelo mar dentro
numas ilhas glaciais.
Que nos digam o resto
a campa e os hospitais.
Uma dessas províncias
do interior foi sua terra.
(Não convém que se saiba
que morre gente na guerra.)
Tiraram-no do quartel
puseram-lhe nas mãos
as armas e mandaram-no
morrer com seus irmãos.
Agiu-se com a maior prudência,
falou-se de modo prolixo.
Entregaram-lhe ao mesmo tempo
o rifle e o crucifixo.
Ouviu inúteis arengas
de inúteis generais.
Viu o que nunca tinha visto,
o sangue nos areais.
Ouviu vivas e ouviu morras,
ouviu o clamor da gente.
E ele só queria saber
se era ou não valente.
Soube-o naquele momento
em que lhe entrava a ferida.
Disse Não tive medo
quando o deixou a vida.
A sua morte foi uma secreta
vitória. Não pasmem
que me dê inveja e pena
o destino daquele homem.
Jorge Luís Borges,
in: "Os conjurados"
Imagem: sapo.pt
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