MOTE:

"Eu sou uma autêntica bomba abandonada! Temo explodir a qualquer momento..."
- Frase de um ex-combatente, anónimo.

Amigos

quinta-feira, 26 de março de 2015

…PORQUE, AINDA VIVO…



um dia deram-te uma arma,

e uma missão:

- matar!...matar!…matar!...

 

eras tu, pouco mais que criança…

fintaram-te a juventude.

roubando-te a esperança.

algemando tudo o que era virtude…

 

uns anos mais tarde,

porque, ainda vivo,

com mais nada para te tirar…

pediram-te de volta a tua “mulher”..

assim chamavam à espingarda

que um dia te deram,

para com ela tu tudo matares…

homem…mulher…

menina…rapaz…

velho…criança…

…tudo em nome da “paz”…

 

aos outros…já mortos…

chamaram os pais,

as viúvas, os meninos órfãos

que nunca conheceram os seus pais…

a quem pomposamente

lhes deram uma medalha…

 

a ti, porque, ainda vivo,

deram-te o nada

acompanhado do abandono

como que dizendo:

- vai, cão sem dono!…

desaparece!...

 

hoje, em tempos de… “paz”…

és ferida que dói…

és forçado, a de novo, ser herói…

porque, ainda vivo,

em constante luta contra o stress.

 

eduardo roseira

domingo, 22 de março de 2015

O HERÓI - poema de Sidónio Muralha

O herói da guerra
possui 365 medalhas,
uma para cada dia do ano
(só nos anos bissextos
tem um dia de folga).


O herói da guerra
tem um desencontro
marcado com ele mesmo
(sua vocação era ser homem
e fizeram dele um herói).


o herói da guerra
precisa esquecer
(num gesto heróico
fuma heroína).


Sidónio Muralha
In: "Poemas de Abril", Lisboa, 1974, Prelo, pág.58.